quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Oswald de Andrade

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Poemas de Oswald de Andrade



1- Escapulário

No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A poesia de Cada Dia


HISTÓRIA DO BRASIL


Pero Vaz de Caminha


2- A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava de Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra



3- As meninas da gare

Eram três ou quaro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha


Frei Vicente de Salvador


5- Prosperidade de São Paulo

Ao redor desta vila
Estão quatro aldeias de gentio amigo
Que os padres da Companhia doutrinam
Fora outro muito
Que cada dia desce do sertão


JMPS (da cidade do Porto)


6- Vício da fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
POEMAS DA COLONIZAÇÃO



7- A transação

O fazendeiro criara filhos
Escravos escravas
Nos terreiros de pitangas e jabuticabas
Mas um dia trocou
O ouro da carne preta e musculosa
As gabirobas e os coqueiros
Os monjolos e os bois
Por terras imaginárias
Onde nasceria a lavoura verde do café



8- O gramático

Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou



9- 3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi



10- Nova Iguaçu

Confeitaria Três Nações
Importação e Exportação
Açougue Ideal
Leiteria Moderna
Café do Papagaio
Armarinho União
No país sem pecados


POSTE DA LIGHT


11- Jardim da luz

Engaiolaram o resto dos macacos
Do Brasil
Os repuxos desfalecem como velhos
Nos lagos
Almofadinhas e soldados
Gerações cor-de-rosa
Pássaros que ninguém vê nas árvores
Instantâneos e cervejas geladas
Famílias



12- A Europa curvou-se ante o Brasil

7 a 2
3 a 1
A injustiça de Cette
4 a 0
2 a 1
2 a 0
3 a 1
e meia dúzia na cabeça dos portugueses



13- Linha do escuro

É fita de risada
A criançada hurla como o vento
Mas os cotovelos se encontram
Se acotovelam e se apalpam

Mãos descem na calada da lua quadrada
Enquanto a orquestra cavalos e letreiros galopam

Entre saias uma lixa humana se arredonda
Mas quando amanhece
A mulher qualquer
Desaparece



14- Pronominais
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Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro


ROTEIRO DAS MINAS


15- Documental

É o Oeste no sentido cinematográfico
Um pássaro caçoa do trem
Maior do que ele
A estação próxima chama-se Bom Sucesso
Florestas colinas cortes
E súbito a fazenda nos coqueiros
Um grupo de meninos entra no filme



16 - Longo da linha

Coqueiros
Aos dois
Aos três
Aos grupos
Altos
Baixos


LÓIDE BRASILEIRO


17- Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
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