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Poemas de Oswald de Andrade
1- Escapulário
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A poesia de Cada Dia
HISTÓRIA DO BRASIL
Pero Vaz de Caminha
2- A descoberta
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava de Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
3- As meninas da gare
Eram três ou quaro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
Frei Vicente de Salvador
5- Prosperidade de São Paulo
Ao redor desta vila
Estão quatro aldeias de gentio amigo
Que os padres da Companhia doutrinam
Fora outro muito
Que cada dia desce do sertão
JMPS (da cidade do Porto)
6- Vício da fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
POEMAS DA COLONIZAÇÃO
7- A transação
O fazendeiro criara filhos
Escravos escravas
Nos terreiros de pitangas e jabuticabas
Mas um dia trocou
O ouro da carne preta e musculosa
As gabirobas e os coqueiros
Os monjolos e os bois
Por terras imaginárias
Onde nasceria a lavoura verde do café
8- O gramático
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou
9- 3 de maio
Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi
10- Nova Iguaçu
Confeitaria Três Nações
Importação e Exportação
Açougue Ideal
Leiteria Moderna
Café do Papagaio
Armarinho União
No país sem pecados
POSTE DA LIGHT
11- Jardim da luz
Engaiolaram o resto dos macacos
Do Brasil
Os repuxos desfalecem como velhos
Nos lagos
Almofadinhas e soldados
Gerações cor-de-rosa
Pássaros que ninguém vê nas árvores
Instantâneos e cervejas geladas
Famílias
12- A Europa curvou-se ante o Brasil
7 a 2
3 a 1
A injustiça de Cette
4 a 0
2 a 1
2 a 0
3 a 1
e meia dúzia na cabeça dos portugueses
13- Linha do escuro
É fita de risada
A criançada hurla como o vento
Mas os cotovelos se encontram
Se acotovelam e se apalpam
Mãos descem na calada da lua quadrada
Enquanto a orquestra cavalos e letreiros galopam
Entre saias uma lixa humana se arredonda
Mas quando amanhece
A mulher qualquer
Desaparece
14- Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
ROTEIRO DAS MINAS
15- Documental
É o Oeste no sentido cinematográfico
Um pássaro caçoa do trem
Maior do que ele
A estação próxima chama-se Bom Sucesso
Florestas colinas cortes
E súbito a fazenda nos coqueiros
Um grupo de meninos entra no filme
16 - Longo da linha
Coqueiros
Aos dois
Aos três
Aos grupos
Altos
Baixos
LÓIDE BRASILEIRO
17- Canto de regresso à pátria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008
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